A Trindade - Existe ou Não???


Parte I


Prezado...,

Que a graça do Salvador seja presente em sua vida.
Recebi seu material referente à trindade. Conquanto não acredite que debates ferrenhos proporcionem crescimento espiritual (e muito menos agradem a Deus), creio ser importante o bom diálogo, firmado no respeito e compreensão mútuas. Por isso, o presente estudo abordará de forma sucinta as seguintes questões: 1) É a doutrina da Trindade de origem bíblica ou católica? Nós Adventistas adotamos todos os aspectos da fórmula nicena? 2) Por que os pioneiros eram antitrinitarianos? 3) A regra de fé dos Adventistas do 7o Dia é a Bíblia ou a compreensão que os pioneiros tinham de algumas doutrinas? 4) Qual era a posição de Ellen G. White a respeito da Trindade? Como se desenvolveu sua compreensão acerca deste assunto? Seus comentários esgotaram todo o conhecimento que poderíamos obter do estudo dos textos bíblicos, principalmente em suas línguas originais? 5) Foram os seus textos, referentes à Trindade, “manipulados” de modo a favorecer uma posição Trinitariana? 5) Antes de 1980 algum líder da igreja, da época de Ellen G. White, forneceu algum posicionamento sobre a Trindade entre os Adventistas? 6) A doutrina da trindade contradiz a idéia da unicidade divina? 7) Por que é importante a crença em um deus Triúno?
Origem da Doutrina da Trindade
Com toda a certeza a doutrina da Trindade é de origem bíblica. O irmão deve estar lembrado que no material que lhe foi enviado anteriormente pelo amigo..., por mim elaborado, há um estudo acerca das expressões “outro” e “Consolador” encontradas em João 14:16. Vimos que o termo “outro” aí empregado, traduzido da palavra grega allov (allos), significa OUTRO DA MESMA ESPÉCIE, DIFERENTE. Já o termo “Consolador”, no grego é paraklhtov (parakletos), significa "advogado", "alguém chamado a estar do lado de". Somente um ser real pode ser parakletos.
Desta forma, como negar que o Espírito Santo seria OUTRO SER além de Jesus, DIFERENTE, possuidor da mesma essência divina? Não há como querido irmão! Se Jesus quisesse dizer que o Espírito Santo fosse apenas um poder de Deus não poderia ter usado “allos” neste texto!

Pergunto: quem é mais antigo: o texto de João 14:16 ou a igreja Católica? Obviamente que é o evangelho de João, escrito entre os anos 96 e 100 A.D. Assim, a idéia de que a doutrina da Trindade originou-se com a igreja Católica através de concílios está longe de ser verdade. O que estes concílios fizeram foi confirmar uma crença cristã bem anterior. Por exemplo, o objetivo do Concílio de Nicéia em 325 A.D. foi o de combater a heresia de Ário. Além disso, nós Adventistas não temos como autoridade tais concílios e não aceitamos certos aspectos defendidos por eles, entre os quais destaco aquela descrição do Filho como sendo “eternamente gerado”. Nossa autoridade repousa na Bíblia.
Sinceramente, negar a existência da Trindade e a personalidade do Espírito Santo sabendo que há o texto de João 14:16 nas Escrituras é o mesmo que negar a Bíblia Sagrada, trazendo para si a perdição eterna.
Portanto, sendo que a irmã Ellen G. White foi uma profetiza inspirada, tudo o que ela disse a respeito do Espírito Santo (e da divindade) de forma alguma poderia contradizer o que está em João 14:16 e nos demais textos que tratam da personalidade do Espírito Santo (Somente seres pessoais (Deus, seres humanos, demônios, etc) podem falar, amar, ter sentimentos – ver Atos 13:2, Romanos 15:30, Efésios 4:30, etc).
Por que os pioneiros eram antitrinitarianos?
Temos de reconhecer que a maioria dos principais pioneiros adventistas não criam na Trindade. Entre os poucos trinitarianos podemos destacar Ambrose C. Spicer, pai de William Ambrose, presidente da Associação geral. Deve-se também ressaltar que a declaração de Daniel T. Bourdeau em 1890 mostra-nos que nem todos eram unânimes no antitrininarianismo: “Embora afirmemos ser crentes e adoradores de um único Deus, tenho chegado a pensar que entre nós existem tantos deuses quantas são as concepções da Divindade” . Esta declaração nos leva a concluir que a igreja ainda não possuía um posicionamento oficial quanto ao assunto, de modo que hoje nós trinitarianos pudéssemos ser chamados de apóstatas...
Se você estudar com a mesma dedicação que tens feito nestes últimos meses a
respeito da Trindade e a origem desta crença entre os pioneiros chegará a conclusões surpreendentes. Primeiro verás que parte de nossos pioneiros vieram de um contexto religioso marcado pelo antitrininarianismo, entre eles José Bates e Tiago White, que vieram da Conexão Cristã. Assim, não devemos nos admirar com o fato de eles não terem aceitado a Trindade. Alguns deles inclusive eram semi-arianos; nem por isto iremos deixar de crer que Jesus é co-eterno com o Pai...
Segundo, os pioneiros rejeitavam um trinitarianismo baseado em credos, que contêm elementos não apoiados pela Bíblia. Com o passar do tempo, à medida em que pesquisavam sobre o assunto, o ensino aclarava-se em suas mentes.

A regra de fé dos Adventistas do 7o Dia é a Bíblia ou a compreensão que os pioneiros tinham de algumas doutrinas?
Conquanto os pioneiros tivessem sido pessoas sinceras e que muito, mas muito mesmo contribuíram para a formação de nossa doutrina (especialmente a do Santuário), não devemos esperar que eles fossem os detentores absolutos de todas as verdades, sendo que o conhecimento da verdade é progressivo e eles estavam aprendendo. Deus usou-os em sua esfera de ação e hoje usa-nos na nossa; isto significa que se temos um conhecimento privilegiado em relação a eles relacionado à Trindade, então vamos difundi-lo. Se aqueles poucos pioneiros tivessem tido maior luz sobre este assunto, certamente teriam mudado seus conceitos, do modo como o fez, por exemplo, Tiago White.
Se a interpretação da declaração da irmã White no MS 2, de 26 de agosto de 1855, que consta em seu material, que reza: “a mensageira do Senhor afirma que os adventistas já possuíam a verdade, e nunca mais seria necessário um esforço como o que havia sido realizado para trazê-lo novamente à luz” puder ser interpretada da forma apresentada, terás muitos problemas, pois antes deste período:
Em 1844 a irmã White, juntamente com alguns pioneiros, defendia a idéia da porta fechada;
Em 1844 ela observada o domingo com o se fosse o sábado;
Somente em 1855 que eles passaram a guardar o Sábado “de um por do sol a outro por do sol”; antes, para eles (inclusive para o casal White) o horário de observância do Sábado era observado das 6 horas da tarde de sexta-feira às 6 horas da tarde de Sábado;
Além disso, até 1863 a maioria dos Adventistas inclusive Tiago e Ellen White, comiam carne de porco. Portanto, dizer que em 1855 os adventistas já possuíam a verdade COMPLETA não condiz com a realidade. Não posso ver isto de outra forma que não seja ignorância quanto ao assunto ou fanatismo.
Mesmo tendo uma grande dívida para com os pioneiros e um profundo respeito por estes servos de Deus, nossa única regra de fé é a Bíblia Sagrada.
Qual era a posição de Ellen G. White a respeito da Trindade?
Se estudarmos os escritos da Sra. White destituídos de idéias preconcebidas chegaremos à pelo menos duas conclusões: 1. Seu conhecimento da Trindade foi gradativo; à medida que ia recebendo luz sobre o assunto expressava sua opinião e 2. Não se pode provar que em algum momento ela tenha sido contra a Trindade, a não ser em alguns aspectos que não condiziam com a Bíblia, entre eles o posicionamento do Dr. Kellogg, totalmente diferente do ponto de vista adventista e a declaração metodista que dizia: “existe um único Deus vivo e verdadeiro, simpiterno, sem corpo ou partes” .
Algo que percebi no material enviado e que não posso deixar de considerar é o fato de haver uma violência contra o texto bíblico de I Coríntios 2:10. Apenas esta “interpretação” deveria levar-nos a desacreditar toda esta apostila. Usar a declaração da Sra. White do livro Historia da Redenção, p. 18 para dizer que o Espírito neste texto é Jesus chega a ser ridículo, levando-se em conta que a irmã White, no livro supracitado, está falando noutro contexto que não é o mesmo de I Coríntios 2:10. Além disso, o autor está querendo testar a Bíblia pelos escritos de Ellen White ao invés de testar os escritos de Ellen White pela Bíblia. É óbvio que a Sra. White não estaria dando outra interpretação ao texto se não aquela dada pela Bíblia, de que o Espírito Santo é Deus. O dom profético “testemunha de Jesus” e não “muda as Palavras de Jesus”.
O verso 13 de I Coríntios 2 não deixa nenhuma dúvida que o Ser ali mencionado é o Espírito Santo. É dito que o “Espírito ensina”, harmonizando-se com o que Jesus disse em Lucas 12:12 e João 14:26. Se Paulo estava se referindo à Terceira Pessoa da Divindade em I Coríntios 2:10, é óbvio que a irmã White também o estava. Em sua declaração de que o Espírito deve ser uma pessoa divina (Evangelismo, p. 617) não há como ter dúvidas de que ela estava tratando do Espírito Santo e não de Jesus, pois seria redundante ela comentar a respeito de algo tão óbvio para todos (de que Jesus é uma pessoa). Prefiro ficar com a Bíblia e com a irmã White...
É de suma importância entendermos que os comentários da irmã White não esgotam os textos bíblicos. Há inclusive muitos versos não comentados por ela; nem por isto iremos negá-los. O nome hebraico que aparece para “Deus” em Gênesis 1:1 é “Elohim”, uma forma plural para Deus. Isto é apoiado pelo hebraico. Deste modo, negar a evidência bíblica quanto à Trindade em Gênesis 1:1 pelo fato de a profetiza não se deter neste verso é fazer algo bem do gosto de satanás, que nega a Palavra de Deus.
Ao fazer uso da expressão “façamos”, também plural, não há a mínima hipótese do Criador estar falando a outros senão ao Filho e ao Espírito Santo. Veja que o verso 2 de Gênesis 1 descreve o Espírito Santo como “pairando por sobre as águas”. Entretanto, “no hebraico o termo é “estar sobre”, assim como uma galinha fica sobre os seus ovos para chocá-los e trazer nova vida ao mundo. Da mesma forma o Espírito Santo pairou sobre a criação original de Deus para encher seu vazio com as várias formas de vida, de onde resultou o relato de Gn 1 e 2. Assim, desde o princípio o Espírito Santo estava ativo na criação, junto com o Pai e o Filho” Não há como negar a Divindade e Personalidade do Espírito Santo ao fazer-se um estudo honesto destes dois primeiros versos da Bíblia.
Foram os seus textos (de EGW), referentes à Trindade, “manipulados” de modo a favorecer uma posição Trinitariana?
O fato de nos manuscritos o Espírito Santo ser chamado de terceira pessoa em letras minúsculas em nada afeta a Sua divindade e personalidade. Isto é muito claro quando vemos que às páginas 669-671 do livro O Desejado de Todas as Nações Ellen White utiliza o pronome pessoal “Ele” em referência ao Espírito Santo, do mesmo modo que o faz o Novo Testamento, que emprega pronomes pessoais gregos em referência a Ele. Apenas em João 14-16 isso ocorre 24 vezes. Não há dúvidas de que a serva do Senhor estava em harmonia com a Bíblia no que diz respeito a este aspecto do Espírito Santo. É muito difícil imaginarmos que em todas as vezes que a irmã White faz menção de Mateus 28:19 em seus escritos esteja insinuando de que devemos batizar “em nome do Pai, do Filho e do poder...” Com certeza a Sra. White sabia que há três seres envolvidos nesta fórmula batismal.
O que mais importa não é se os textos estão em maiúsculo ou minúsculo, mas aquilo que está dizendo, de que o Espírito é uma pessoa (não sei como estas pessoas têm tanta imaginação de modo que não enxergam as evidências...) Os livros que apresentam o divino Espírito Santo em letras maiúsculas nem de perto tiveram o objetivo de deturpar os textos da Sra. White, mas apenas ressaltar algo em que ela acreditava. Não devemos acusar os tradutores de serem desonestos; isto não é justo.
Quero levar sua mente a refletir num importante texto: Colossenses 2:9. O termo “Divindade” aplicado a Jesus é no original theotes; isto significa que Jesus é a expressa imagem da Divindade. Interessante é que A SRA WHITE AO FAZER USO DA LINGUAGEM DE COLOSSENSES 2:9 APLICA-A AOS TRÊS MEMBROS DA DIVINDADE: “O Pai é toda a plenitude da Divindade”, “O Filho é toda a plenitude da Divindade” e o Espírito Santo “é toda a plenitude da Divindade” (Evangelismo, p.p. 614 e 615). Pergunto: isto se deu por acaso?
Antes de 1980 algum líder da igreja, da época de Ellen G. White, forneceu qualquer posicionamento sobre a Trindade entre os Adventistas? 
Conquanto a posição Adventista do 7o Dia mais recente sobre a Trindade seja a votada na sessão da Associação Geral realizada em Dallas, Texas, em 1980, não há como negar que já havia um ponto de vista padrão sobre o assunto (inclusive nos escritos de Ellen G. White) a partir da década de 1940. Antes mesmo deste período TEMOS DOCUMENTADO algo muito valioso e que nos traz a verdade sobe o assunto. Veja esta afirmação surpreendente extraída do livro A Trindade – como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo , p. 247 e 248:
Seu apoio (de Ellen G. White) a uma visão bíblica da Trindade tornou-se tão explícito entre 1902 e 1907 que em 1913 F.M. Wilcox, editor do mais influente periódico denominacional e um dos cinco depositários originais indicados por Ellen G. White para assumirem a supervisão de sua herança literária, pôde escrever na Review and Herald, sem medo de ser contraditado por ela, que “os adventistas do sétimo dia crêem: 1. Na divina Trindade. Essa divina Trindade consiste do Pai eterno... do Senhor Jesus Cristo... e do Espírito Santo, a terceira pessoa da Divindade” (Wilcox, “The Message for Today, Review and Herald, 9 de outubro de 1913). Tal declaração, num artigo que sintetizava as crenças fundamentais dos adventistas do sétimo dia, apareceu imediatamente após um artigo escrito por Ellen White, de modo que é virtualmente certo que ao examinar a publicação de seu próprio artigo, como habitualmente fazia, ela tenha visto a peça escrita por Wilcox.”. (grifos acrescidos). Irmão: peço em nome do Deus Eterno para que ABRAS OS SEUS OLHOS e vejas se tal material que me enviou tem algum cabimento à luz desta poderosa evidência. SE ELLEN G. WHITE ERA CONTRA A TRINDADE, POR QUE NÃO REFUTOU AS DECLARAÇÕES DESTE SEU DEPOSITÁRIO? ISTO PROVA DE MODO INEQUÍVOCO QUE ELA ACREDITAVA NA TRINDADE! COMO VAIS ME NEGAR ISTO COM BASE NESTA DECLARAÇÃO QUE É DA ÉPOCA DA PROFETIZA, MOMENTOS EM QUE ELA ESTAVA BEM LÚCIDA A PONTO DE ESCREVER? Peço que ores a Deus sobre isto para que não entres em juízo. Quero vê-lo debaixo da sombra da árvore da vida naquele dia que estivermos no Céu; para isto, aceite as evidências da Palavra de Deus.
A doutrina da trindade contradiz a idéia da unicidade divina? 
De modo algum. A unicidade na pluralidade é uma idéia bíblica. Podemos ver isto comparando os textos de Deuteronômio 6:4 e Gênesis 2:24:
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.” Deuteronômio 6:4.
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” Gênesis 2:24.
As palavras que sublinhei nos dois textos, no original hebraico, são as mesmas: echad, que significa “um entre outros”. Do mesmo modo que Deus é “único”, “no sentido plural”, Adão e Eva eram “uma só carne no sentido plural”. Caso o texto de Deut. 6:4 estivesse negando a Trindade, Gen. 2:24 também deveria negar a “pluralidade” de Adão e Eva, que eles eram “uma só carne”.
Além disso, se Moisés quisesse negar que a Divindade é composta por mais de uma Pessoa, teria de ter usado a palavra yachid, que exclui a possibilidade de existirem outros seres inerentes a Divindade.
Assim, biblicamente, não há como refutar a idéia de unicidade na pluralidade. Fazer o contrário é colocar-se ao lado do erro.
Temos de aceitar o fato de que não podemos entender a Trindade em sua plenitude, pois “se somente um gênio pode entender outro gênio, somente um Deus pode entender outro Deus”. Entretanto, temos de acatar aquilo que a Bíblia nos revela se a temos como única regra de fé e prática e se queremos ser salvos.

Por que é importante a crença em um deus Triúno?
A crença na doutrina bíblica da Trindade é de proporções muito sérias (o espaço não me permite tratar de todas elas, mas recomendo-lhe que leias com urgência o livro A Trindade, lançado pela Casa Publicadora Brasileira). Primeiro porque envolve aceitar a revelação de Deus; segundo porque apenas um ser divino pode substituir outro ser divino. Caso o Espírito Santo não fosse Deus (lembre-se de João 14:16), teríamos de admitir que uma “energia” veio como Consolador para substituir a Cristo, o que seria uma blasfêmia. Como disse o comentarista L. E. Froom: “... Nada a não ser uma Pessoa poderia substituir aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência seria suficiente”. Terceiro, porque a unicidade da Divindade pode garantir-nos que é possível todo o universo estar em plena harmonia um dia.
Não rejeites o amor e a Pessoa do Espírito, pois desta forma estarás dando um grande passo rumo ao cometimento do “pecado imperdoável” registrado também em Mateus 12:31 e 32.
Considerações finais
Antes de dar seqüência ao nosso diálogo, inclusive no estudo dos demais textos da irmã White, quero que analise o que escrevi com muito carinho, em especial o estudo, com base no original, de João 14:16. Aguardarei suas observações.
Estou orando por você.

Com estima,
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